terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Educação: Reflexões sobre Educação em Ciclos de Formação Humana em Mato Grosso

Reflexões sobre Educação em Ciclos de Formação Humana em Mato Grosso

A escola organizada em Ciclos de Formação Humana... Esta forma de pensar e fazer educação não são inéditos, começou com a introdução do Ciclo Básico de Aprendizagem (CBA), em 1997, trazendo a redução da repetência e da evasão escolar. A diferença é que, agora, ao invés de concentrar-se nos anos iniciais, espalha–se para todo o Ensino Fundamental.

Esta organização escolar não agradou grande parte dos professores que usavam a reprovação como um recurso metodológico, Cabrera (2006), explica esse pensar, o medo da reprovação é o que motiva o interesse do aluno em estudar argumentando que “se eles sabem que não são mais perseguidos pelo fantasma da reprovação, não se interessarão mais, igualmente pelos estudos”.

Concordo com Vasconcellos (1998, p.114), quando diz: “antes de acabar com a reprovação na legislação, é preciso acabar com ela na cabeça dos educadores”.

Para Cabrera (2006), ainda há de se percorrer um grande caminho, para que as práticas avaliativas não estejam centradas na simples verificação de conteúdos assimilados, e passem a ser instrumentos para diagnosticar possíveis inferências durante todo o processo de ensino e aprendizagem.

Para Fernandes & Freitas (2008), avaliação é uma atividade que envolve legitimidade técnica e legitimidade política na sua realização. Entretanto, o professor deve estabelecer e respeitar princípios e critérios refletidos coletivamente, referenciados no projeto político pedagógico, na proposta curricular e em suas convicções acerca do papel social que desempenha a educação escolar.

Vale ressaltar que, para o êxito da proposta, não basta, automaticamente, transformar as séries em ciclos. A mudança só ganha corpo e realmente revoluciona a partir de um repensar de antigas formas de currículo, avaliação, relação entre professores e estudantes, entre outros aspectos que traduzem a busca cotidiana de mais qualidade no ensino, a partir da transformação da escola, currículo, e consequentemente, do processo avaliativo de caráter classificatório e excludente, marcado pela aprovação x reprovação ao final de cada série, em um processo inclusivo, interativo e de promoção dos sujeitos.

Você, professor, é o principal agente destas transformações. Desde que se dê conta do desafio de romper com padrões já tão enraizados de divisão de ensino e busque seguir, com mais naturalidade o ritmo de desenvolvimento dos alunos. E desde que, compreenda que esta proposta não tem como principal objetivo, ir “empurrando” os alunos, como grande parte dos professores comentam. Pelo contrário, seu objetivo principal é promover uma educação responsável, democrática e de qualidade, onde “todos os alunos devem aprender”. É um ciclo de formação humana e não de conhecimento científico. Por isso, na Escola de Formação Humana, há o Professor Regente, o Professor Articulador, Coordenador Pedagógico e ainda Sala de Superação.

O Professor Regente é o responsável pela turma, por uma ou mais áreas do conhecimento. Já o Professor Articulador, não possui turma fixa, sua tarefa é trabalhar com alunos que, por algum motivo, apresentam dificuldades na aprendizagem. O Coordenador Pedagógico tem a missão de trabalhar de forma articulada com o Professor Regente e Articulador no desenvolvimento dos processos de aprendizagem.

A Sala de Superação foi criada pensando em atender alunos que se encontram matriculados fora do seu ciclo vital. É preciso lembrar que o ensino obrigatório, gratuito e de qualidade, é um direito do cidadão e um dever do Estado, que precisa envidar todos os esforços para garantir a sua concretização e o Estado somos nós, porque nós é que estamos “na base”, que é a escola, e mais especificamente, a sala de aula.

Portanto, professor, cabe a nós, a responsabilidade de conhecermos nossos alunos, suas reais necessidades e assim, elaborarmos um plano que atenda cada um, respeitando suas diferenças individuais. Jamais conseguiremos que “todos” aprendam se aplicarmos um mesmo plano sem considerar suas diferenças, e se continuarmos a querer que cheguem prontos para a fase. Como por exemplo, é rotineiro ouvir esta frase: “Meus alunos estão no quinto ano (ou no sexto, ou no Ensino Médio), mas não sabem ler, interpretar, calcular”... Este problema é nosso e não daquele que passou. Se recebermos um aluno sem o perfil da fase em que estamos trabalhando é nossa obrigação e de nossa responsabilidade, partir de onde ele se encontra, já com os demais alunos que se encontra com o perfil desejável, segue-se em frente. Dá trabalho, não? Mas é a nossa missão.

A sociedade, a mídia não vai dizer que é culpa das autoridades quando vêem um baixo resultado nas provas de rendimento escolar, mas vai “gritar”: - “É culpa dos professores irresponsáveis, que não querem trabalhar. Eles colocam seus filhos em Escolas particulares porque sabem que a Escola onde trabalham, não presta”.

Então vamos arregaçar as mangas, vamos nos unir para essa transformação, podemos juntos, provar que a nossa Escola faz a diferença porque somos todos responsáveis, competentes e capazes... Ao invés de criticar a organização da escola vamos acreditar, estudar, defendê-la e mostrar bons resultados.

Tendo em vista os pressupostos acima citados, bem como o Parecer Orientativo da Escola Organizada por Ciclos de Formação Humana em Mato Grosso, a Equipe do Cefapro Cuiabá-MT, mediante a um diagnóstico solicitado às escolas no início do ano letivo, o qual revelou a necessidade de aprofundamento sobre essa temática.

É nesse sentido que nós, profissionais desta instituição temos nos empenhado, em construir com o coletivo de profissionais da Educação desta região uma concepção de currículo, metodologia e avaliação, considerando que esta forma de organização escolar, permite aos envolvidos no processo, perceber que a promoção automática, seja considerada pelo ciclo vital dos alunos e não um instrumento único de construção de conhecimento científico, bem como possibilidade de aprendizagem.

Para esse trabalho, nos baseamos em alguns autores como Piaget, Vygotsky, Wallon, Freire, Ferreiro, Soares, Perrenoud (1999), Werneck (1996), Vilas Boas (2003), Bloom (1983), Taylle (1992) dentre outros a avaliação formativa corresponde o modelo ideal seguindo a lógica da atual sociedade a medida que haja um rompimento com práticas avaliativas tradicionais, arraigadas na alma do professorado e no sistema de ensino, embora tal rompimento não seja tarefa simples, pois trata-se de rever e re-significar mais de um século de práticas educacionais excludentes, além de superar barreiras como a má formação profissional, baixos salários e o descrédito na profissão do magistério.

O profissional, que trabalha na perspectiva da escola organizada em ciclos de formação humana, não estará preocupado em atribuir notas, “empurrar ou reprovar” aos estudantes, mas em observar e registrar seus percursos durante as aulas, a fim de analisar as possibilidades de aprendizagem de cada um e do grupo como um todo, podendo planejar e re-planejar as possibilidades de intervenção junto às aprendizagens dos estudantes. Lembrando sempre que os envolvidos no processo deverão ter clareza sobre o que é esperado deles para viabilizar a sua participação, interesse, aprendizagem e sua auto-avaliação.

Encerramos, recentemente, as formações da área da Alfabetização, oferecidas neste ano pelo CEFAPRO Cuiabá MT e pudemos registrar que a fundamentação teórica apresentada, estudada e discutida no desenvolvimento dos cursos foi de grande valia aos professores participantes que demonstraram através de comentários, avaliações descritivas e transposições didáticas ter contribuído efetivamente na articulação da teoria e prática em sala de aula.

“É importante refletir sobre a nossa postura perante a realidade dos alunos.Tratar a vida como um conto de fadas não cabe mais.”
(Cibele Sofia)

QUATRO RAZÕES PARA FAZER DA ROTINA SUA ALIADA

1- Melhorar o desempenho profissional

2- Aumentar a participação da turma nas aulas

3- Sentirem-se seguro para lidar com os imprevistos

4- Ter mais tempo para o lazer e a família

MUITO AMOR NO SEU CORAÇÃO!

FONTES DE CONSULTA
CABRERA, R. C. Docência e Desespero: Avaliação da Aprendizagem na Escola Ciclada. Brasilia: Liber Livro Editora, 2006. 189p.
COSTA, Maria Luiza Andreozzi. Piaget e a intervenção psicopedagógica. São Paulo, Editora Olho D’Água, 1997.
DEMO, Educação e Qualidade. Campinas, SP: Papirus, 1994.
DOLLE, Jean Marie. Para compreender Jean Piaget. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan, 1991.
FERNANDES C. de O; FREITAS, L. C. Indagações sobre o currículo: Currículo e Avaliação. Brasilia: MEC, 2008. 44p.
FERREIRO, Emília & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua escrita. Porto Alegre, Artes Médicas, 1991.
FREIRE, Paulo. A importãncia do ato de ler. São Paulo, Paz e Terra,1989
KAMII, Constance e PEURIES, Rhita. Piaget para a educação pré-escolar. Porto Alegre, Artes Médicas, 1992.
MATO GROSSO/SEDUC. Escola Ciclada de Mato Grosso: novos tempos e espaços. Cuiabá, SEDUC. 2000
PERRENOUD, Philippe. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação. Perspectivas sociológicas. Lisboa: Publicações Dom Quixote e IIE, 1993.
PIAGET, Jean. A psicologia da criança. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1989.
SOARES, Magda Becker. Linguagem e escola: uma prespectiva social.2. ed. São Paulo: Ática,1986.
________.Letramento: um tema análise em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,1998.
________. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasieira de Educação, Rio de Janeiro, n.25, p.5-17, jan./abr.2004.
TAILLE, Yves De La e outros. Piaget, Vygotsky, Wallon, Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo, Summus Editorial, 1992.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação: concepção dialética-libertadora. São Paulo, SP: Libertatd, 13ª ed., 2001.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento é Linguagem. 4 ed. SP. Martins Fontes, 1991.
__________A Formação Social da Mente, 4 ed. SP. Martins Fontes, 1991.

Autoria:  Elena Roque de Souza Almeida. Professora Formadora na Área da Alfabetização / CEFAPRO – Cuiabá MT.

Fonte: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/reflexoes-sobre-educacao-em-ciclos-de-formacao-humana-em-mato-grosso/35276/

Nenhum comentário:

Postar um comentário